sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Práticas de leitura, escrita e oralidade no contexto social

O conceito de letramento surge para separar estudos sobre as práticas sociais da escrita e a alfabetização. Tal estudo examina as mudanças políticas, econômicas, sociais e cognitivas relacionadas ao uso da escrita.

O letramento está presente na vida dos indivíduos mesmo antes destes serem alfabetizados. Um exemplo destas práticas seria a criança ouvir uma história contada por um adulto, acompanhando a sequência da mesma através das figuras do livro.

De acordo com a autora a escola se preocupa apenas com o processo de aquisição dos códigos da escrita, deixando de lado a sua função social que é observada em outras agências de letramento, como a família, a igreja, as placas das ruas, até mesmo as imagens da televisão, dos anúncios de produtos em folhetos de supermercados ou outdoors.

Observamos que muitas crianças conseguem realizar cálculos mentais, conversar sobre assuntos diversos, usar até o computador, ir ao mercado fazer compra para a mãe, mas tem dificuldade em usar o código escrito e numérico na escola.

As práticas do uso da escrita na escola seguem uma concepção de letramento do modelo autônomo, que leva em conta a competência individual que é utilizada apenas como forma de promover e aprovar os alunos, deixando de lado a função social da mesma. Nesse modelo a escrita seria um produto completo, pronto, sem estar presa ao contexto, representando uma ordem diferente de comunicação, distinta da fala.

O modelo ideológico, afirma que as práticas letradas são culturalmente determinadas pelo contexto social e instituições em que foi concebida, levando em conta a pluralidade e a diferença, investigando as características entre práticas orais e práticas letradas.

Alguns autores acreditam que a oralidade e a escrita não são extremas, há um contínuo entre ambas as modalidades de linguagem dependendo do foco em que estão empregadas, nem toda escrita é formal e planejada, nem toda oralidade é informal e sem planejamento.

Precisamos pensar o processo de aquisição da escrita como um processo contínuo ao desenvolvimento lingüístico da criança substituindo a ruptura que determina à práxis escolar.

As práticas letradas realizadas pela família ou em instituições como a igreja, são práticas coletivas essenciais onde o conhecimento sobre a escrita é construído coletivamente pela colaboração dos indivíduos de um determinado grupo. Por esta razão faz mais sentido reencaminhar o ensino da escrita na escola priorizando o que há de comum, de semelhante entre oralidade e a escrita valorizando e ampliando a sua função social.

As atividades planejadas para um dia letivo servem como evidências do que pode ser trabalhar o letramento e sua função social na sala de aula, os alunos ao criarem suas receitas de sanduíche passam a usar uma linguagem própria de um livro de receitas e começam a estabelecer as diferenças entre os diversos estilos de texto.

Atividades rotineiras como ir ao mercado, fazer uma lista de compras, ler a bula do remédio, preparar uma receita, calcular o troco da padaria ou do sorvete são práticas do dia-dia em que o letramento está presente.

A concepção do ensino da escrita como modelos que consideram a aquisição da escrita como uma prática discursiva que na medida em que possibilita uma leitura crítica da realidade, se constitui como um importante instru­mento de resgate da cidadania e que reforça o enga­jamento do cidadão nos movimentos sociais que lu­tam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social (Freire, 1991:68). O resgate da cidadania, no caso dos grupos marginaliza­dos, passa necessariamente pela transformação de práti­cas sociais tão excludentes como as da escola brasileira, e um dos lugares dessa transformação poderia ser a desconstrução da concepção do letramento dominante.

REFERÊNCIAS:

KLEIMAN, Angela B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola, 2006. In: KLEIMAN


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